Relacionamentos abusivos

Os relacionamentos abusivos não se restringem à gênero, idade, classe social, e pode acontecer em diferentes contextos, por exempl

Coluna DICA por em 19 de março, 2020 16h03m
Amanda Sabatin Nunes  Psicologa (PUC Campinas), é  mestre em Psicologia (PUC-CAmpinas), realizou treinamento em serviço em Saúde Mental na Unicamp e especialista clinica em análise do comportamento. Agora com novo local de atendimento, na cidade de Jales
Amanda Sabatin Nunes Psicologa (PUC Campinas), é mestre em Psicologia (PUC-CAmpinas), realizou treinamento em serviço em Saúde Mental na Unicamp e especialista clinica em análise do comportamento. Agora com novo local de atendimento, na cidade de Jales

Os relacionamentos abusivos não se restringem à gênero, idade, classe social, e pode acontecer em diferentes contextos, por exemplo, entre casais, pais e filhos.  Pode vir de “homens/mulheres de família”, o que dificulta ainda mais a discriminação. A pressão psicológica pode vir de mulheres também, com chantagens emocionais e provocações, e também de homens, como na maioria dos casos.

Um abusador pode ter um mau caráter e até ser do tipo sociopata, variando de intensidades, e este tipo não tem como mudar. Mas também pode ser abusador por ter um tipo de comportamento aprendido e até mesmo, fazer de forma inconsciente. O abuso pode estar muito nítido em comportamentos, ou mascarados, em pequenas e frequentes atitudes. Ás vezes muito fácil de ser notado, e às vezes muito difícil, principalmente pela pessoa abusada. Os outros podem notar e alertar, mas o abusado tende a achar justificativas para os comportamentos do abusador- “ele é assim mesmo”, “ele tem uma doença mental”, “mas ele diz que me ama”.

As formas de abuso nem sempre chegam a ser violência física e quando isso acontece, é derivado de abuso psicológico. O ideal é reconhecer desde o início. O abuso psicológico pode acontecer desde proibições, ciúmes excessivo, não fazer nunca o que o outro quer, não abrir mão de nada, exigir de mais do outro, comentários pejorativos e deteriorativos, não ficar feliz com o sucesso do outro, competição, não respeitar o tempo do outro, chantagens emocionais, proibições, extremo vitimismo e culpabilização. O parceiro, vítima da situação, normalmente não tem repertórios de contra controle e de assertividade, tem baixa autoestima, insegurança, dependência  e carência emocional. Acaba acreditando no que o outro diz, se sentindo culpado, acreditando que foi ele que provocou o conflito e que deve mudar, acaba aceitando o inaceitável, alimentando o ego do abusador, e não percebe que  na balança, o descontentamento está maior que a felicidade. É difícil discriminar os comportamentos abusivos, porque normalmente os abusadores sutis se comportam de forma intermitente, hora punem, hora dão flores  e dizem que amam. O que tem baixa autoestima normalmente acha que é melhor aceitar o que tem do que ficar sem  a pessoa, até como uma autorregra “não posso ficar sozinha”, “é padrão de a sociedade estar em um relacionamento”, ou também “eu preciso ser bom com todo mundo”, “eu preciso aceitar o defeito do outro”, “é errado sentir raiva”. Tais autorregras derivam também de um histórico de modelos de aprendizagem que a pessoa teve, dentro da família, em outros relacionamentos. Aprendeu uma forma de relacionamento punitivo e submisso, como se a relação de controle e contra controle desequilibrada fosse normal.  Tanto o abusador quando o abusado reproduzem as referências que tiverem ao longo de sua história de vida, e tem uma concepção de amor formada. Não entendem a diferença de cuidado e carinho com controle, possessão. O abusado aceita o que é lhe dito, pois é importante se sentir amado, pertencido. É importante avaliar: Qual sua concepção de amor? Como foram suas referências/ modelos comportamentais? Você tem déficits de repertórios em outros contextos de sua vida? Qual grau de relevância da pessoa na sua vida? Como está seu nível de tolerância? Quais são suas autorregras? Há mais momentos de felicidade ou de tristeza? Você é você com a pessoa, ou precisa agir sempre de forma como o outro espera? E você, ama a pessoa, ou está apenas acostumado? Lembrando que sentimentos de raiva, fuga/esquiva às vezes são essenciais, já que ninguém precisa lidar com os problemas do outro. Como está sua autoestima? “A gente aceita o amor que acha que merece”.

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