No início do mês de setembro, normalmente é dedicado as celebrações da semana da pátria, em razão da proclamação da independência ocorrida em 07 de setembro de 1822. Quem não se lembra das comemorações cívicas, de época anteriores, coloridas de verde e amarelo? No entanto, neste ano, as cores símbolo da identidade nacional tiveram um destaque bem distante do tom ufanista a elas atribuídas em setembros anteriores. Primeiro, o verde ganhou grande repercussão, mas não associado à nossa bandeira, como estamos acostumados, representando nossas imensas florestas, mas, neste caso, o sentido da discussão foi de sua destruição. Segundo o amarelo ganhou tons intensos em atividades cívicas escolares, no entanto, em nada lembrava seu apelo patriótico, mas sim um apelo importante de valorização da vida, denominado de setembro amarelo.
O verde. No dia 02 de setembro o Jornal o Estado de São Paulo publicou que a Amazônia teve uma quantidade de queimadas bem acima da média histórica para o mês de agosto. Ainda segundo o jornal, “foram 30.901 focos de incêndio ao longo do mês, ante uma média de 25.853 para o período entre 1998 e 2018”. Representando quase o triplo do registrado em agosto do ano passado. Informações como essa, ganhou grande repercussão e atingiu proporções semelhantes a grandeza com que a floresta sempre ocupou nas cores da nossa bandeira. O assunto dominou a reunião dos países mais ricos do mundo (G7) e tivemos que encarar a questão para além dos jogos de poder que tem obscurecido a razão brasileira nos últimos tempos.
Desse modo, diante do risco de virar cinzas, o verde da floresta amazônica alcançou debates apaixonados em todos os meios de comunicação. Os desmentidos feito pelo governo federal em relação aos dados divulgados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), bem como a polêmica em torno dos recebimentos de verbas estrangeiras foi, evidentemente um importante fomento, causando fortes reações no mundo todo. O presidente francês Emmanuel Macron chegou a cogitar a internacionalização da Amazônia. O fato acirrou ânimos e resultou em posições extremas que não contribuíram para se produzir uma saída racional.
O amarelo. Símbolo das nossas riquezas, a cor emprestou sentido a outra causa, deslocando seu sentido para preocupação grande relevância. O amarelo de setembro veio do americano Mike Emme, jovem que emocionou o mundo ao cometer o suicido aos 17 anos. Mike era apaixonado pela cor amarela. A conexão com a campanha de prevenção ao suicídio é plenamente justificada, uma vez que, No Brasil o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente, como mostram os estudos, em nosso país, o índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos. Assim, o setembro amarelo, ganhou impulso nos últimos tempos, especialmente, em 2019, a campanha se intensificou, levando a cor amarela da prevenção aos mais variados setores da sociedade, em especial, as escolas.
Cabe ressaltar que tirar a vida é uma atitude extrema e suas causas nem sempre são visíveis. As estatísticas revelam o fato, mas não nos permite um diagnóstico preciso. Neste sentido, é fundamental reconhecer que algo não está bem na sociedade, pois o fato de alguém não suportar fazer parte do mundo, nos diz muito do mundo em que vivemos. E que mundo é esse? Um mundo moldado por valores morais e dominados por padrões socioeconômicos que sufocam a liberdade individual e atentam contra a essência humana. Neste sentido, o advento da internet tem impulsionado ainda mais as mudanças nas relações humanas, criando barreiras invisíveis e, não raro, perversa no desenvolvimento socioemocional de crianças e adolescentes, como a exposição ao ciberbullying. Desse modo, o simples diálogo, o olho no olho, parece cada vez menos frequente no mundo contemporâneo, levando muitos indivíduos a represarem sentimentos e sufocarem suas angústias, abrindo, dessa maneira, um abismo para a própria vida. Esses e outros fatores precisam ser debatidos como forma de amenizar as dores que afetam a alma e geram transtornos que nem sempre são perceptíveis. Romper com tabus, redescobrir o diálogo e o afeto, se despir de preconceitos, são essenciais para que a valorização da vida prevaleça.
Quanto ao verde, para não ser apagado da nossa bandeira pelo desmatamento ou perda da soberania, é preciso construir um diálogo profundo com todos os setores da sociedade e trazer para o campo decisório a pauta da sustentabilidade, reafirmando o compromisso do Brasil com a qualidade de vida das gerações futuras. Essa polêmica é, na verdade, uma grande oportunidade para o Brasil assumir o protagonismo internacional na questão ambiental e cobrar reciprocidade.
Verde e Amarelo. Esperamos celebrar outros setembros em verde e amarelo, como símbolo de uma nação que preserva a natureza, respeita as diferenças e preserva a vida.