Lendo os jornais de nossa cidade, sempre me deparo com artigos sobre tecnologia que me provocam um misto de sentimentos. Navego entre sentimentos antagônicos como a admiração pela inovação e benefícios trazidos por ela, mas também pelos malefícios, principalmente para os jovens.
Dois artigos de colegas profissionais da educação publicados em diferentes jornais, me fizeram refletir sobre estes sentimentos: o da Profª Drª Regina de Souza, Coordenadora do Curso de Psicologia do UNIJALES que discorreu sobre a exposição excessiva de adolescentes e jovens às mídias sociais e o do Profº Me Wellington Luís Codinhoto Garcia que comentou sobre o primeiro implante do chip Neuralink no cérebro humano ocorrido no dia 28 de janeiro deste ano. Este chip tem o objetivo de “ajudar pacientes com deficiência ou que sofreram acidentes a recuperar parte das funções comprometidas, entre elas, fala, movimento e visão”. Que avanço benéfico, não é mesmo?
Porém, neste artigo que ora escrevo, vou me ater à abordagem da Drª Regina sobre a exposição excessiva dos jovens às mídias sociais, pois é um fato que vem se refletindo no comportamento de crianças e adolescentes, tanto em casa como na escola. Além do mais, como ela disse, “não promovem um avanço de habilidades cerebrais. Ao contrário, geram um excesso de informações que produz diversas consequências para a memória, concentração e atenção.”
De acordo com o DataReportal de 2023, o Brasil está entre os líderes mundiais no uso da internet e das redes sociais, destacando que 64,4% da população mundial está conectada todos os dias à rede de computadores, em uma média de 8h diárias. No Brasil, segundo o relatório, a proporção é ainda maior: 84,3%. Extremamente preocupante, não é mesmo? Principalmente se levarmos em conta que parte dessas pessoas conectadas são crianças e adolescentes que usando mal e em excesso as redes sociais e internet, estão sujeitos a efeitos colaterais gravíssimos como a depressão, por exemplo. Doença esta que acomete principalmente as jovens do sexo feminino entre 10 e 20 anos de idade, segundo relato do Dr. Tiago Pianca, psiquiatra da infância e adolescência de Porto Alegre, à Revista Veja.
Entre tantos malefícios causados pelo uso demasiado das redes sociais e internet, a quantidade de especialistas, entidades e governos estão preocupados em estabelecer medidas para mitigar este uso e, consequentemente, minimizar os problemas advindos desse excesso.
Entre vários exemplos, temos alguns casos, como o da Suécia, onde o ensino digital predomina há anos nas escolas. O governo, preocupado com as implicações da ampla digitalização e o impacto na exposição precoce das crianças às telas, levou para as salas de aula os livros físicos. Na França, Itália e Holanda, de acordo com relatório da UNESCO, algumas restrições ao uso de celulares nas escolas já foram adotadas. No Brasil, a Prefeitura do Rio de Janeiro, neste ano, anunciou a proibição do uso de celulares e dispositivos eletrônicos em escolas públicas municipais. A decisão foi baseada em consulta pública que teve o percentual surpreendente de 83% dos participantes favoráveis à proibição e apenas 6% contrários e, ainda, em relatórios da Organização Mundial da Saúde – OMS; em dados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes – PISA que apontam “uma correlação negativa entre o uso excessivo de tecnologias e o desempenho acadêmico; piora do bem estar; ansiedade e depressão”.
Estes quadros de ansiedade e depressão, entre outros, levaram a OMS a incluir o “vício em telas” na classificação Internacional de Doenças – CID. Já a Sociedade Brasileira de Pediatria, orienta os pais para que limitem o uso dos celulares para jovens de até 18 anos, a apenas 2 horas por dia e com supervisão. Enfatizam, ainda, que proíbam o acesso a celulares para crianças de até 02 anos de idade.
Conclui-se, portanto, por estes poucos relatos que a situação é realmente preocupante. E aí, questiono: as famílias, nós pais, avós, o que estamos fazendo para minimizar os efeitos nocivos da utilização excessiva das mídias sociais e internet por crianças e adolescentes, se muitas vezes a grande maioria dos adultos faz também uso excessivo dessas ferramentas? Pergunto mais. E você? Leu este artigo até o fim? Se leu, parabéns. Você é um vencedor, pois a maioria das pessoas hoje em dia procrastinam, não conseguem se concentrar e nem ler mais de 20 linhas de um texto.
Acredito, portanto, que todos nós sofremos com dúvidas e falta de respostas a questões novas e complexas, mas, de certa forma, não estamos sozinhos. Ao que tudo indica, o mundo todo patina e fica engasgado nas dúvidas em relação ao uso adequado das tecnologias.