08 de Março, 2025 12h03mSaúde

Covid-19: cinco anos da pandemia que ressignificou o papel dos hospitais e de suas equipes

O mês de março de 2020 marcou um período que uniu pessoas em todo o mundo. Muitas dessas histórias tiveram como cenário hospitais nos quatro cantos do planeta.

O mês de março de 2020 marcou um período que uniu pessoas em todo o mundo. Muitas dessas histórias tiveram como cenário hospitais nos quatro cantos do planeta. Foram casos de altas hospitalares muito comemoradas, despedidas a distância e, acima de tudo, uma luta intensa. No dia 11, a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia de covid-19 e, no dia 20, o Brasil decretou estado de calamidade pública devido à doença. A partir de então, apenas os serviços essenciais puderam funcionar. 

Enquanto muitos viviam momentos de incertezas e se adaptavam à nova realidade, profissionais da saúde aprendiam diferentes formas de cuidado, e um número cada vez maior de pessoas lutava pela vida nos hospitais. Segundo o Ministério da Saúde, mesmo com todas as medidas de isolamento, mais de 700 mil mortes foram registradas no país — número inferior apenas ao dos Estados Unidos, que superou a marca de 1 milhão de mortos, de acordo com  dados do Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Em Curitiba (PR), o advogado Guilherme Kovalski, então com 35 anos, foi diagnosticado com covid-19 em julho de 2020. Diabético e hipertenso, viu a doença evoluir rapidamente  devido a uma trombose pulmonar, uma das complicações mais comuns e graves do vírus. Ele foi internado às pressas no Hospital São Marcelino Champagnat, referência para casos de covid-19, e iniciou uma verdadeira batalha pela vida.

A alta hospitalar veio sete meses depois — cinco deles foram passados dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “A covid-19 deixou algumas marcas, principalmente no aspecto físico e motor. Precisei de um intenso processo de reabilitação para recuperar a mobilidade e a capacidade respiratória. Ainda hoje sigo com acompanhamento médico e algumas limitações, mas me considero um sobrevivente e sou grato pela recuperação que alcancei”, conta Guilherme. “Foi um período assustador, sem saber o que vinha pela frente, mas também de muito aprendizado, resiliência e fé. Cada dia foi uma batalha, e olhar para trás agora me faz valorizar ainda mais a vida e o convívio com as pessoas que amo”, enfatiza o advogado. 

Novas maneiras de cuidar

O intensivista e gerente médico do Hospital São Marcelino Champagnat, Jarbas da Silva Motta Junior, coordenava as UTIs da instituição quando a pandemia foi decretada. Ele foi o primeiro médico da capital paranaense a atender um caso grave da doença.

Entre os milhares de atendimentos, estava o advogado Guilherme Kovalski. “A covid-19 exigiu uma nova forma de cuidado. Muitos pacientes precisaram de traqueostomia, e alguns foram submetidos à ECMO, que funciona como um coração ou pulmão artificial. A média de internação de pacientes críticos, que era de 14 dias, passou a ser quatro vezes maior e, em casos como o de Guilherme, ainda mais longa”, explica Jarbas. “Guilherme era jovem e, apesar do diabetes e da hipertensão, acreditávamos que teria uma recuperação sem grandes complicações. Mas, já na primeira semana, ele apresentou tromboses, infecções e outras condições que exigiram cirurgia. Em muitos momentos, tememos por sua vida, mas ele se mostrou um lutador”, relembra o intensivista.

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Na época, o hospital foi reorganizado, com uma ala dedicada aos pacientes com problemas respiratórios e outra para os demais. Profissionais da saúde pertencentes ao grupo de risco foram afastados, respiradores adquiridos, protocolos de higiene revisados e antecâmaras de pressão negativa instaladas nos acessos às áreas de atendimento à covid-19. 

Além disso, a comunicação com os familiares passou a ser feita por videochamada. Ferramentas de telemedicina foram implementadas para atender pessoas com sintomas respiratórios leves evitando a necessidade de deslocamento. Também foi desenvolvido um protocolo para cirurgias seguras, para evitar qualquer risco de contaminação pelo vírus, voltado a pacientes que necessitavam de outros tipos de atendimento.

As equipes médicas participaram de treinamentos constantes para se manterem atualizadas sobre os protocolos recomendados pelas autoridades de saúde. “Foi um período extremamente desafiador. Precisávamos entender a nova doença, acompanhar suas manifestações e aperfeiçoar técnicas de cuidado — e, mesmo assim, perdemos muitos pacientes. Acredito que ninguém que esteve dentro de um hospital — e, principalmente, de uma UTI — passou pela pandemia e saiu da mesma forma”, frisa Jarbas. 

Impactos no sistema de saúde como um todo

Enquanto muitos hospitais se tornaram referência no atendimento de casos de covid-19, outras instituições precisaram absorver a demanda de outros problemas como os traumas. Esse foi o caso do Hospital Universitário Cajuru, que divide a mesma quadra com o Hospital São Marcelino Champagnat. Ambas as instituições fazem parte do complexo de saúde do Grupo Marista. Grande parte das emergências e urgências de Curitiba e da região metropolitana foi direcionada ao Hospital Universitário Cajuru, incluindo casos de acidentes de trânsito, violência e diversos tipos de trauma. Para atender a essa demanda, cirurgias eletivas, acompanhamentos e pesquisas em várias áreas precisaram ser suspensos.

“A pandemia nos transformou como profissionais. Tanto nós, que já tínhamos anos de experiência, mas nunca havíamos vivenciado algo semelhante, quanto os residentes, que foram formados em um cenário completamente atípico. Cinco anos depois, tudo parece distante, mas as lições que tiramos continuam vivas”, comenta o médico intensivista e diretor-geral dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, Juliano Gasparetto.

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