
Vivemos tempos desafiadores para a missão evangelizadora da Igreja. Em meio a tantas vozes, distrações e ruídos do mundo, corre-se o risco de enfraquecer a escuta da única voz que verdadeiramente dá sentido à vida: a Palavra de Deus.
Foi esse forte clamor ouvido durante o 2º Congresso Nacional da Animação Bíblica da Pastoral, realizado em Goiânia, de 19 a 22 de maio de 2025. Ali, entre bispos, padres, diáconos, agentes de pastoral, biblistas e animadores, ecoou com vigor profético um apelo urgente: é preciso estar “enamorado pela Palavra”!
Sim, não basta conhecer a Bíblia como quem consulta um manual ou cita um versículo em reuniões. É necessário apaixonar-se pela Palavra de Deus como quem encontra um tesouro, uma fonte inesgotável de luz, consolo, verdade e direção. Somente assim ela se tornará, de fato, a alma da nossa vida cristã, da nossa pastoral e da missão de cada movimento e serviço em nossas comunidades.
Estar enamorado pela Palavra é mais do que lê-la. É permitir que ela leia a nossa história, molde nossas escolhas, cure nossas feridas e corrija nossos caminhos. É colocá-la no centro da fé — não como adorno, mas como fundamento de tudo o que somos e fazemos. É deixar que ela seja o fogo que ardia no coração dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,32), a lâmpada para nossos pés (cf. Sl 119,105), a espada que penetra até o íntimo da alma (cf. Hb 4,12).
Não haverá verdadeira evangelização sem uma Igreja íntima da Palavra, em que cada agente de pastoral, ministro e missionário possa afirmar que a Bíblia não é apenas um livro de memórias, mas a voz viva de Deus que ressoa hoje e transforma quem somos.
Por isso, deixo aqui um apelo a todos os membros das nossas pastorais, movimentos, ministérios e conselhos paroquiais: não descuidem da Palavra! Que cada encontro, cada reunião, cada missão, cada catequese, nasça e seja conduzido pela escuta orante das Escrituras. Que haja mais Bíblias abertas sobre as mesas, mais silêncio para escutar Deus falar, mais oração que brote da Palavra e menos discursos vazios de sentido.
O caminho para que a Palavra se torne alma da pastoral não é técnico. É espiritual. Exige humildade, escuta profunda, desejo sincero de conversão. Requer amor por Jesus Cristo, Palavra viva e encarnada, que nos fala e espera nossa resposta.
Sejamos uma Igreja enamorada pela Palavra. Uma Igreja que evangeliza porque foi, antes, recriada e reconciliada por ela. Uma Igreja que escuta antes de falar, que ora antes de agir, que se ajoelha diante da Palavra antes de erguer a voz nas praças.
Cristo conta conosco. No entanto, somente aquele que se deixa transformar pela Palavra — aquele que verdadeiramente se enamora dela — é capaz de transformar o mundo.
Alex Pereira Xavier
Membro da Comissão Bíblica Diocesana – Diocese de Jales