UM CHAMADO A RUPTURA DO EGOÍSMO DO EU

“Mas, eu, o que é que eu era?” Assim se questiona Riobaldo na obra Grandes Sertões Veredas.

Coluna Notícias da Diocese por Dom Reginaldo Andrietta em 08 de outubro, 2021 17h10m
Pe. Washington Henrique da Conceição, médico geriatra
Pe. Washington Henrique da Conceição, médico geriatra

“Mas, eu, o que é que eu era?” Assim se questiona Riobaldo na obra Grandes Sertões Veredas. A dúvida do jagunço, personagem fictício de Guimarães Rosa, feita enquanto realizava a travessia pelo Sertão, isto é, pela vida que se vai ordenando através do seu narrar, é também dúvida de todo ser humano. Ouso dizer que é eterna e caracteriza o próprio ser humano, enquanto ser em busca.

Para esse eterno questionar temos sempre respostas condicionadas ao momento histórico que se vive e o momento atual é complexo. A vida está complicada! É muita senha para decorar, muita lei para seguir, muita conta pra pagar. Tem muito carro na rua. Tem muito lixo na rua. É muito risco, muita insegurança. É muito partido político e nenhum deles interessado no que realmente importa para este país. É muita gente morrendo. É tanta informação que no fim não sabemos o que é a verdade. Aliás, inventaram a pós verdade.

Para o físico americano Yaneer Bar-Yam, fundador do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra, o termo complexidade é definido como “o número de coisas conectadas umas às outras”. No atual contexto de uma doença infectocontagiosa que provoca uma pandemia mundial, as nossas conexões tomam ainda maior importância. Nossas conexões atualmente provocam medo, porém como temer aquilo que nos define? Somos seres relacionais. Na nossa abertura para o diferente encontramos um outro, o qual nos permite romper as relações egoístas da autoidolatria e da dominação e permite acolher a dimensão dialogal defendida por Buber e que constitui a referência do eu-tu.

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            Esta dimensão dialogal eu-tu realiza-se na vivência da responsabilidade, cuidado e generosidade, requisitos primordiais para uma sociedade mais humana, uma vez que são exigências da alteridade.

Nélio Vieira de Melonos diria que o sujeito se faz sujeito quando no seio de sua imanência egoísta rompe o próprio egoísmo e se abre à manifestação de outrem. Desta forma ser missionário, ir ao encontro do outro, não é uma parte ou um ornamento que posso por de lado, não é um simples apêndice que posso retirar, mas é parte constituinte da essência do ser humano. É necessário sair, ir ao encontro. Apesar do medo de relacionar-se devemos ter a coragem do profeta e repetir “Eis-me aqui, envia-me”(Is 6,8). É necessário romper a fronteira do “seguir, “curtir”, “stalkear”, para de fato encontrar o outro que verdadeiramente existe em um mundo real, é preciso vencer o medo. Talvez aconteçam acidentes, feridas e marcas de lama por termos saído pelas estradas da vida, mas é preferível as cicatrizes da missão do que a calmaria de uma vida sem sentido.

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