Cheguei a Jales pela primeira vez em um domingo à noite, nos idos de 1976. Passando pelo centro da cidade, deparei-me com uma igreja totalmente diferente das tradicionais, apresentando uma arquitetura moderna, funcional e inovadora, oposta à das catedrais góticas, com arcos pontiagudos, ou das ornamentadas no estilo barroco ou rococó. Ela já me encantou no primeiro olhar. Mas, ao lado da igreja, chamou-me muito a atenção algo do qual sempre gostei e usufruí muito: a praça.
Nesta praça, denominada Dr. Euplhy Jalles, ocorria o tradicional footing, que vem do inglês “ir a pé”, onde acontecia o que hoje chamamos de paquera, flerte. Tanto os homens quanto as mulheres, após a missa, iam para a praça. Os homens andavam para um lado e as mulheres para o outro. Quando se cruzavam, ocorria a paquera. Era a maneira, naquela época, de a juventude se encontrar. Além dos jovens, as famílias também frequentavam a praça e as crianças aproveitavam todo o espaço disponível para brincar. Quantas lembranças a praça me trouxe!
Lugar de convívio e memória, as praças possuem várias funções e trazem muitos benefícios para a comunidade. São locais onde as pessoas da cidade se encontram para bater um papo, se alimentarem, ouvirem música e se divertirem com as brincadeiras das crianças, que, por meio da convivência, estreitam laços e se tornam adultos mais maleáveis e seguros.
Com a crescente urbanização e o avanço da tecnologia, que confinam crianças e jovens em casa com seus celulares e computadores, afastando-os do convívio social, as praças voltam a ser atrativas e uma opção para a saída da rotina estressante do dia a dia. Atraem pessoas de todas as classes sociais: crianças, jovens, adultos e idosos, transformando-se em um espaço democrático e, muitas vezes, o único espaço de lazer disponível para várias pessoas, propiciando a melhoria da qualidade ambiental e de vida dos moradores.
Nesse sentido, a manutenção das praças é fundamental para que continuem a exercer suas funções e atrair seus moradores. As recentes reformas das praças Dr. Euplhy Jalles e João Mariano de Freitas (Praça do Jacaré) em Jales são um exemplo de como a manutenção e renovação desses espaços são essenciais. Hoje, as praças reformadas não só preservam suas funções originais, mas também se tornaram locais ainda mais acolhedores e funcionais, atraindo moradores e visitantes.
Depois dessas transformações, não podemos mais cantar como diz a música composta pelo saudoso Carlos Imperial: “a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim”. Agora tudo se transformou para melhor. As reformas foram um sucesso, revitalizando a alma da cidade e adaptando-se às necessidades contemporâneas, enquanto mantêm a tradição e a memória vivas.
Essa transformação demonstra o compromisso da cidade com o bem-estar de sua população, garantindo que esses espaços continuem a ser pontos de encontro, lazer e fortalecimento da identidade comunitária. Que outras praças sejam reformadas, ampliando o espaço de lazer da nossa cidade, e que a comunidade do entorno de cada uma se organize para preservá-las.
Rosangela Juliano Bordon Bigulin
Vice-Reitora Acadêmica do UNIJALES