A cidade de Jales, no auge dos seus 79 anos, é um centro urbano de espírito jovem e dinâmico. Um lugar que se destaca por sua pujança econômica e social, mas, antes de tudo, um lugar onde a vida se transborda em sonhos, esperanças e conquistas. Onde o presente tem raízes profundas na coragem dos seus antepassados. Assim, composta por histórias que tonalizam seus cenários de identidades diversas a cidade carrega as marcas impressas no tempo, que alicerçam seu crescimento e imprimem o legado norteador das gerações futuras. Dessa forma, a cidade é o espelho de seus habitantes. Em Jales, a UNIJALES é parte dessa marca que norteia o futuro e lapida o saber, como símbolo de ousadia, de perspicácia e de visão de mundo. Uma instituição que hoje se confunde com a cidade que ajudou e ajuda a se desenvolver. Por essa razão, é fundamental, em seu cinquentenário, que se faça referência aos seus conquistadores.
Poucos são os seres humanos que no ritmo voraz da nossa existência, em que tudo parece tão fugaz, conseguem ir além do seu tempo e fazer a diferença. Nos ciclos da vida o tempo é apenas uma vaga percepção do que nasce, cresce, floresce e desaparece. Mas apesar dessa natureza, com seus movimentos cíclicos e contínuos, dando-nos a sensação de uma rápida passagem e destinada a se apagar na distância dos anos, o homem carrega em si a possibilidade de transformar e contrariar essa efemeridade existencial. Desse modo, felizmente há homens e mulheres que afrontam os ciclos de finitudes e se eternizam. Assim, paralelo aos ciclos da vida seguem as diferenças, os feitos e a ousadia para mudar o futuro. Quem faz a diferença escapa ao destino perene e de algum modo sobrevive a devastação do tempo, e, a humanidade passa a ter uma dívida com a memória dessas pessoas tão especiais. As memórias são como os galhos de arvores na primavera onde sempre brotam a vida após as cinzas do inverno.
De acordo com Hannah Arent, “nós, mortais, não percebemos que os grandes feitos e obras que constituem a narrativa histórica é parte de um processo abrangente. As situações únicas, interrompem o movimento circular da vida”. E essa interrupção cria o extraordinário. A UNIJALES é, hoje, o extraordinário na história e na memória da nossa cidade, fruto da ousadia e da capacidade empreendedora do casal Oswaldo Soler e Ivoni Fuster Corby Soler. É possível que embrenhados na luta pela implantação do ensino superior, se o casal não tivesse absoluta consciência desse extraordinário. No entanto, havia uma sensação de que a vida, em Jales, não seria mais a mesma, quando no dia 25 de março de 1970 foi anunciado oficialmente, por um radioamador da cidade, a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jales (FAFICLA), imediatamente, segundo Oswaldo Soler Júnior, um sentimento de euforia mobilizou os moradores, como se antecipasse a conquista do tri da copa do mundo no México. Naquele instante, carros começaram a ir para avenida numa barulhenta carreata para celebrar a grande conquista.
No transcorrer desses tempos, é importante que as memórias afetivas sejam ouvidas, pois só a sensibilidade carregada por essas memórias é capaz de dimensionar a grandeza do acontecimento, como já nos mostrou Marcel Proust em suas obras. Nesse sentido, quem viveu todo o processo e recebeu a missão de fazer a ponte com as novas gerações, guarda na alma o significado mais profundo desse grande evento. As vozes dos herdeiros têm o coração e a razão de uma luta para manter o legado da família. De uma família que uniu e transformou a vida de outras famílias. Em artigo anterior, para este jornal, os funcionários relataram a importância da Instituição em suas vidas, agora, trazemos aqueles que testemunharam essa conquista e fizeram o sonho do ensino superior em Jales chegar vigoroso até nossos dias. Maria Christina Fuster Soler Bernardo, hoje presidente da mantenedora e Reitora enfatiza: “sou muito feliz por fazer parte de tudo isso desde minha infância, quando ia com minha Mãe a noite e ficava andando no prédio com o Vô Zé (José Florêncio), para fechar todas janelas antes de ir embora. Depois quando comecei a trabalhar com ela na secretaria, aos 17 anos, fazendo o “morto”, hoje o arquivo do aluno formado. Afinal lá se foram 50 anos de história, mas também de muita luta, muitos desafios, sacrifícios e enfrentamentos para manter e desenvolver o que os seus pais tanto sonharam em construir.
“Nessa viagem no tempo, as lembranças da nossa reitora se dá conta que são 42 anos [de sua vida] dedicando a Instituição” Mas salienta, tudo isso com amor, garra e determinação, mesmo com tantos problemas que já enfrentei e enfrento, falo do fundo do meu coração, os funcionários fazem com que eu continue essa batalha, sempre estão juntos, todos esses anos, apoiando, ajudando e o mais importante, demonstrando o AMOR pela UNIJALES. Com o espírito de uma instituição que se tornou uma família acolhedora, nesses 50 anos de existência, Christina conclui, com certeza meus pais devem estar felizes no plano Espiritual em ver que o Sonho de um Centro Universitário se concretizou e vai continuar com a ajuda dessa equipe maravilhosa que temos.
Outro herdeiro e mantenedor, Oswaldo Soler Junior é um especialista em narrativas de memória. Quem conhece o Júnior sabe como ele nos conduz com maestria a uma viagem no tempo. O que segue são alguns fragmentos, pois suas lembranças, carregada de minucias dariam, sem dúvida um belo livro de memórias. De acordo com Júnior Soler, tudo começou quando [seu] pai, que era bancário, veio da cidade de Balsamo com [sua] mãe para trabalhar em Jales. Aqui ele montou uma escola, chamada Escola de Comércio “Dona Leonor Mendes de Barros”, o nome foi uma homenagem a esposa do Governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros.
Visionário e com grande espírito empreendedor, o senhor Oswaldo Soler percebeu que a educação superior iria crescer no país, como lembra Soler, na região só tinha faculdade em São José do Rio Preto, Votuporanga e Araçatuba. Diante disso, meu pai contratou uma assessoria, decidido a criar uma faculdade em Jales. Foram várias idas e vinda ao MEC, no Rio de Janeiro, até o anúncio oficial. Mas era o ano 1970 e professores qualificados para o ensino superior não era fácil, era preciso buscá-lo em cidades maiores e distantes, como Araçatuba e São José do Rio Preto. Lembra que seu Valdemar, motorista e amigo da família, partia de Jales até Araçatuba, e depois seguia para Rio Preto, passando em Tanabi, para pegar professores, em estrada de terra. Fazia isso praticamente todos os dias.
O prédio que hoje abriga a UNIJALES foi também a casa dos, hoje, mantenedores Júnior e Christina. Júnior Soler também destaca que onde atualmente é a sala dos professores era o quarto dos [seus] pais e em frente ficava o quarto dele e o da sua irmã. Outra lembrança que Júnior faz questão de enfatizar, assim como fez sua irmã, era o carinho de seus pais pelos funcionários. Foi assim, com o empreendedorismo de seus pais a dedicação de seus colaboradores que, segundo Soler, foi possível deixar esse grande legado para a Jales com uma educação de qualidade, impulsionando a melhoria das condições de vida da população, pois só a educação pode dar as pessoas um trabalho melhor e com dignidade.
Por essa razão, o passado é o sentido que nos mostra o quanto a luta vale a pena. Nas palavras de Hobsbawm “o passado é uma dimensão permanente da consciência humana”, que nos faz acreditar na inovação e no desenvolvimento da humanidade. É neste sentido que a memória fundamenta nossa existência.